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Correção de Solo

Circular Técnica - Terrena (1/2025)

solo com boa fertilidade

Introdução

A correção do solo é uma prática de extrema importância para a atividade agrícola visto que a maioria dos solos brasileiros, principalmente os solos de Cerrado, apresenta elevada acidez e níveis tóxicos de alumínio (Al), além de baixos teores de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) (EMBRAPA 2004). Quando se eleva o pH do solo com o uso de corretivo, promove-se o aumento da disponibilidade de alguns elementos e ao mesmo tempo, a não solubilização de outros, considerados tóxicos para as plantas, como Al (Figura 1). Além disso, pode provocar o aumento dos teores de Ca e de Mg, possibilitando o uso desses solos para o processo produtivo.


gráfico disponibilidade de nutrientes vs pH
Figura 1: Curva de disponibilidade de nutrientes em função do pH do solo. Fonte: Adaptado de Lopes (1998).

Existem diversas metodologias para se realizar a correção do solo e o método a ser utilizado deve ficar a critério de cada Engenheiro Agrônomo, porém um assunto que tem ocasionado polêmica é a necessidade de se estabelecer, no solo, uma determinada relação entre Ca e Mg. Segundo o Instituto Agronômico de Campinas (2022), deve-se preocupar com os teores absolutos de Ca e Mg, e não somente com a relação Ca:Mg:K. Assim, tanto em solos com elevada CTC (>10 cmolc/dm3) ou baixa CTC (< 4 cmolc/dm3), a correção do solo deve ser feita visando atingir valores mínimos de 4 cmolc/dm3 e 1,2 cmolc/dm3 de Ca e Mg, respectivamente.

Por outro lado, a elevação excessiva do pH superficial tem sido apontada como causa de deficiências de micronutrientes (GUPTA et al., 2008), sendo que no Brasil, muitos casos estão relacionados à aplicação de altas doses de calcário.  Estudos específicos com soja em sistema plantio direto, como o de Moreira et al. (2017), confirmam que o aumento do pH pela calagem reduziu a disponibilidade de Zn, Cu e Mn, afetando a absorção pelas plantas.


Calagem Superficial

A calagem superficial, comumente realizada em sistemas de plantio direto, pode não apresentar o resultado desejado na correção do solo. Caires (2008), demonstra que o método de aplicação de calcário no solo deve ser sempre levado em consideração, visto que, a reação do calcário agrícola, que por sua vez é pouco solúvel em água, é geralmente limitada ao local de sua aplicação ou incorporação devido sua baixa mobilidade no solo, o que acarreta questionamentos quanto à viabilidade desta prática em profundidade no sistema plantio direto (SPD). De acordo com informações obtidas em áreas comerciais, viu-se que calagem superficial propicia resultados positivos, porém tem reação mais demorada. E mesmo onde não se faz incorporação, deve-se realizar a calagem superficial, já que é um método importante para manutenção de áreas agrícolas. A figura 2 representa valores de pH do solo em função da profundidade, dose e tempo de aplicação, provando que a aplicação do calcário está diretamente ligada aos efeitos da correção do solo, mesmo em superfície, quando pensado em longo prazo (MINATO et al., 2023).

gráfico profundidade do solo
Figura2. pH do solo em função da profundidade, dose e tempo de aplicação (MINATO, et al. 2023).


Calagem com incorporação

A prática da calagem com incorporação é o método mais eficiente para correção do solo. Kaminski (2000) e Gatiboni (2003) demonstram como novas áreas passaram a ser utilizadas para o plantio direto após a calagem com incorporação para neutralização de acidez, proporcionando modificações em atributos químicos principalmente em profundidade. Porém, as metodologias de cálculos para calagem atualmente não conseguem estimar o “poder tampão” do solo com relação ao calcário, entregando doses que, muitas vezes, estão aquém do necessário, como pode-se observar no estudo realizado pela Fundação MT (2001). Neste trabalho, buscaram-se corrigir o solo, levantando a quantidade de calcário calculada pelo método de saturação por bases (t/ha) para alcançar as saturações por bases de 40, 50 e 60% e a quantidade de calcário real necessária para área de vegetação de Cerrado do primeiro ano de cultivo, após dois anos de condução de experimentos (Tabela 1).


Tabela 1: Trabalho de correção do solo para identificar as reais mudanças dos atributos do solo em função da aplicação de calcário.

tabela: trabalho de correção de solo
Fonte: Boletim de Pesquisa Soja – Fundação MT 2001.

Em 2022, através da plataforma de serviços da Terrena, ALIA, o corpo técnico de desenvolvimento de mercado recomendou calcário para áreas de abertura visando V% de 100%, porém, chegou-se no máximo 75%, provando que a saturação por bases desejada dificilmente será alcançada (Tabela 2). Portanto, pode-se aplicar doses mais elevadas de calcário, desde que incorporado. Alinhando com a realidade financeira e operacional do produtor, vê-se que altas dosagens de calcário aceleram a construção da fertilidade do solo.


Tabela 2: Mudança na saturação de bases (V%) e saturação por alumínio (m%).

tabela: mudança na saturação
Fonte: Arquivo interno. *Utilizamos nomes fictícios para os talhões, a fim de preservar os nomes dos Clientes (LGPD).

Por fim, em trabalhos realizados na cidade do Rio Paranaíba, viu-se que após 3 anos de calagem superficial, a área não apresentava resposta tangível ao uso do calcário. Após a incorporação, obteve-se resultado positivo em relação aos teores de Ca e Mg no solo e a redução do teor de Al. A primeira coleta ocorreu antes da incorporação e a segunda coleta após, o que prova a eficiência do processo.


Tabela 3: Resultados da coleta de solo antes e após a incorporação.

tabela: resultado de coletas de solo
Fonte: Arquivo interno.


Conclusão

A correção de camadas mais profundas do solo deve ser bem-feita e calculada com critérios, de forma a evitar a necessidade de repetição da operação no ano seguinte devido a dose subestimada do corretivo. O uso de calcário em superfície também é uma prática fundamental para a manutenção dos teores de Ca e Mg no solo e correção da acidez superficial. Embora a calagem seja essencial para neutralizar a acidez do solo e melhorar a disponibilidade de cálcio e magnésio, o excesso pode comprometer a nutrição com micronutrientes. Por fim, um manejo equilibrado, com base na análise de solo, deve sempre ser priorizado.


Referencial bibliográfico:

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Colaboração:
Pedro Henrique Sakai Sá Antunes (Coordenador DM)
Nicolas Furlan Lunghi (ATDM cereais)

Revisão:
Igor Modesto Soares de Oliveira
Max Afonso Alves da Silva
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